BIKE MAGAZINE - PORTUGAL: O Momento do ACE 2011

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O português Mário Roma (Brasil Soul/RC Bikes) decidiu este ano realizar a prova em dupla num tandem (bicicleta para duas pessoas) com o brasileiro Adauto Belli, que é uma pessoa normal, com espírito único e que junta a isto o facto de ser invisual. É verdade, o Adauto é cego!

 

A etapa 6 de 2011 tinha como prato final uns módicos 20 a 25 km de singletracks (daqueles estreitos, entre árvores, onde mal cabe uma bicicleta normal) que não são nada favoráveis a uma bike de cerca de três metros de comprimento. Todas as etapas têm um tempo máximo para serem feitas e nesse dia o ?speaker? anunciava que faltavam 40 segundos para o fecho desta etapa, ao longe entra uma equipa feminina na zona que antecede a meta e atrás delas surgia um tandem. O grito geral foi ?There´s a Tandem coming?!

O acampamento simplesmente parou. Vinha lá a dupla que falava português com sotaque. O relógio não parava e o ?speaker? anunciava os últimos 30 segundos. O Mário e Adauto entravam no espaço relvado... 25 segundos pareciam pouco e começava a contagem decrescente. O Mário e o Adauto ?sprintaram? como puderam para o final. E quando o tiro da pistola ecoou no ar marcando que o último segundo tinha caído, o Mário e o Adauto também caíram, os dois, redondos, bem em cima da relva, mas para lá da linha chegada. Tinham cortado a meta. O acampamento quase veio ao chão. Eu nunca tinha assistido nada assim. No meio dos festejos, chegou o comissário da UCI com o seu poderoso alicate e retirou as placas frontais do Tandem. A dupla era dada como não tendo entrado dentro do tempo. No entanto existia um aspecto importante, e que levou esta dupla a perder cerca de 1 hora nos trilhos antes da chegada. A Raquel (Brasileira) que fazia dupla com o português Hélder Carvalho, teve um acidente e ficou bastante mal tratada da queda. E o Mário e o Adauto, mesmo hipotecando as hipóteses de terminar a etapa, preferiram dar assistência a uma companheira de trilho e perder esse tempo. No final e após a situação de retirar os frontais, o comissário comentou que sabia da situação mas que era obrigatório seguir o protocolo. Assim o protocolo foi seguido. O Mário apresentou recurso da decisão e no dia de partida da última etapa, o frontal 102 estava de novo no tandem da dupla Luso-Brasileira, e eles puderam arracar para a última etapa do Cape Epic 2011.

De facto até pode não parecer nada de especial, mas para mim vale como mais uma vitória do querer sobre o poder.

', 'Publicado na Bike Magazine Portugal'