Projeto DV na Trilha. Foto: Reprodução/Facebook.
O vento no rosto e as folhas a tocarem o corpo. Para se ter uma noção do que eles sentem, é necessário fechar os olhos e abrir a alma. Enquanto isso, adrenalina cresce em uma trilha. É assim que as pessoas com deficiência visual do Projeto “DV na Trilha” se sentem. Na frente, vai um condutor, atrás um deficiente visual conhecido carinhosamente como “DV”. Bicicletas do modelo tandem (bicicletas duplas – para dois ciclistas) possibilitam lazer e melhorias na qualidade de vida de quem nunca imaginou pedalar em uma bicicleta novamente.
Condutor Tião ao lado do DV Luciano. Foto: Larissa Passos.
Os encontros acontecem quinzenalmente aos sábados, 9h da manhã no Jardim Botânico, ambiente natural que oferece trilhas e garantem a diversão e a aventura dos DVs. A ação tem como objetivo levar as pessoas com deficiência visual a exercer a atividade física, trabalhando com a auto-estima. Além de ser um projeto social, é um lugar que trouxe a superação do medo para chegar à independência. São pessoas que perderam a visão e acharam que não seria possível ter atividades de lazer.
“Vontade de viver”
DV Fabiano. Foto: Larissa Passos.
Fabiano Cesário, 28 anos, perdeu a visão após ser vítima de um assalto durante o retorno do trabalho. No momento em que foi abordado, o rapaz estava com fones de ouvido e não sabia o que estava acontecendo, então, segundo explica, acabou reagindo e só soube que era um assalto depois que viu a arma caindo no chão.
Fabiano correu e levou três tiros na cabeça. Perdeu totalmente a visão e o olfato. O Projeto “DV na Trilha” ajudou o rapaz que estava há quatro meses em depressão em decorrência do acidente. “Já vai fazer cinco anos que eu faço parte do “DV na Trilha” e graças a Deus descobri esse projeto que vem resgatando vidas, trazendo para as pessoas a vontade de viver, de sair de dentro de casa que, até então, pra mim eu nunca mais ia pedalar ou andar de bicicleta, não tinha mais vontade de viver”, afirma Fabiano.
DV Kimberlly. Foto: Larissa Passos.
Já a participante do DV, Kimberlly Lopes, 22 anos de idade, perdeu a visão recentemente, devido a um deslocamento de retina causado pela diabete. Além disso, foi passada medicação errada em que o médico aplicou e acabou interferindo sua visão. A jovem conta que descobriu o projeto por meio de uma professora quando contou que já foi atleta, logo em seguida a jovem resolveu conhecer e desde então faz parte. “Eu aprendi com o projeto vê que tem continuidade, que a gente não precisa parar no problema, que a gente não é limitada, a gente pode continuar sem problema nenhum e a viver normalmente” relata a jovem.
DV Jonys. Foto: Larissa Passos
O participante Jonys Ribeiro, 43 anos, perdeu a visão aos 4 anos de idade por conta da rubéola, causando catarata congênita com descolamento na retina. Logo em seguida, fez cirurgia e voltou a enxergar, depois com 14 anos perdeu a visão novamente. O rapaz conta que conheceu o projeto por meio do antigo coordenador do DV na Trilha, então acabou fazendo o teste e não passou, pois estava acima do peso. Depois de um tempo voltou a praticar atividade, assim pegando condicionamento físico e entrou na atividade. Jonys garante que o projeto mudou a forma de viver. “A minha vida era muito sedentária, eu só vivia comendo e sentado no sofá reclamando da vida. Depois que eu conheci o projeto, a minha autoestima subiu e modificou completamente”.
DV Adauto, Foto: Flávia Guirelli
Além de participante do DV na Trilha, Adauto Belli, 47 anos, participa de outras competições mundiais. O atleta paraolímpico participou das olimpíadas de 2016. Ele afirma que está na ação desde 2007 e que o ciclismo trouxe melhorias para sua vida pessoal e a vontade cada vez mais de praticar esportes. “Eu conheci o projeto e a parte da questão social inclusiva e depois fui para o lado competitivo, no mesmo ano eu já estava disputando os jogos pan-americanos”, relata Adauto.
“A gente aprende muito com eles”
Participantes do DV na Trilha. Foto: Larissa Passos
O condutor Márcio Chapola, 45 anos, está há três anos no projeto e conta que a convivência com os deficientes visuais mudou a forma dele encarar a vida. “Às vezes, a gente reclama muito e tem problemas. Quando a gente vê como eles lidam com os problemas de verdade, as adversidades e vemos que reclamamos demais. A gente se sente até mais forte para encarar a vida e os problemas”, relata o condutor.
Márcio acrescenta que aprendeu com os DVs a ser otimista, apesar de tudo. “Eles estão sempre sorrindo e brincando, fazem piadas com a própria condição, limitação e aquele esquema que na verdade, é uma limitação que cede de lugar para uma adaptação e eles estão sempre se reinventando, se adaptando e a gente aprende muito com eles”, afirma.
Simone Cosenza. Foto: Larissa Passos.
A coordenadora do Projeto ‘DV na Trilha’, Simone Cocenza, explica que o projeto é inteiramente voluntário. Então, funcionando por meio de doações que fornecem alimentos e atendimento de saúde. Existem muito mais pessoas boas no mundo do que a gente imagina. Então, muita gente contribui”, afirma a coordenadora geral.
Simone Cocenza entende que o mais interessante da ação é a possibilidade de os deficientes visuais poderem participar de trilhas e competições. Para a coordenadora, competir aumenta a auto-estima e proporciona uma maior qualidade de vida aos ciclistas, principalmente com relação à saúde.
“Eu sou do mundo, um vencedor! ” (Ronaldinho Gaúcho, Jhama e Pablo Luiz, 2016)
Fonte:http://www.agenciadenoticias.uniceub.br/?p=17632