A realidade dói. Meu parceiro, por um erro de comunicação, pensou que deveria ir ao apoio da Shimano na cidade. Pegou carona num caminhão e abandonou a prova. Eu concluí, mas como o que vale é a dupla, fomos desclassificados.
E pior: a bike dele quebrou a suspensão dianteira, a minha o câmbio traseiro. Juntamos as duas para ele continuar, mas eu ficaria sem pedalar.
A realidade dói. Meu parceiro, por um erro de comunicação, pensou que deveria ir ao apoio da Shimano na cidade. Pegou carona num caminhão e abandonou a prova. Eu concluí, mas como o que vale é a dupla, fomos desclassificados.
E pior: a bike dele quebrou a suspensão dianteira, a minha o câmbio traseiro. Juntamos as duas para ele continuar, mas eu ficaria sem pedalar.
Foi no jantar que conversei com a Daniela Lemke, condutora da Tandem em que o Adauto Belli (deficiente visual) tentava concluir uma etapa do desafio. Empurraram muito no prólogo técnico, sofreram muito e abandonaram na segunda etapa, e na etapa 3 andaram poucos quilômetros e retornaram ao se deparar com as trilhas técnicas.
Meu parceiro de outras roubadas (Brasília - Paraty e Ultramaratona Pantanal 120k) estava desolado. Arrisquei. A Dani concordou imediatamente e o Adauto parece que levantou do caixão.
Partimos com aquele mesmo espírito que me fez terminar ontem. Crianças brincando com um brinquedo novo.
O dia foi contagiante. Ultrapassamos boa parte dos atletas e só ouvimos elogios. Eu seguia falando o nome das pessoas e o Adauto comprimentando todo mundo. Até tiramos fotos com a Érika Gramiscelli no meio do pedal!
Caímos algumas vezes, claro, mas para quem não andava junto há dois anos, estava tudo ótimo. Nos momentos de empurrar a bike, saltávamos e já começávamos a correr. Quando o Adauto dava uma afrouxada, era só gritar:
- Adauto, foi você que pediu para sofrer.
E ele parecia recuperar a energia. Parei numa goiabeira e peguei um ramo. Dei a ele e foi o suficiente para armar uma bagunça nos povoados que cruzamos. Ele me batia com a folha de goiabeira e eu imitava um cavalo.
- Anda, cavalo véio! Berrava ele.
E a criançada elouquecia, enquanto eu imitava um cavalo. Bom mesmo foi encontrar uma menininha linda, de uns 5 aninhos, com aquele sotaque baiano delicioso:
- Mainha, corra cá vê uã bicicleta trelada ni ôtra com doi omi trelado ni riba dela, corre mainha!
Que dia incrível! Memorável. O espanto era geral. Até os outros pilotos ficavam fascinados com a nossa Indiona (a bike tandem) descendo os precipícios, acelerando, rasgando, cortando, e às vezes arremessando eu e meu parceiro nas moitas de espinho!
O percurso final era de asfalto, entre Livramento e Rio de Contas. Asfalto bom, verde(!), com uma cachoeira maravilhosa, mas com uma parede de 400 metros de altura para ser transposta em 4 km.
Não conseguíamos impor velocidade suficiente para a tandem ficar em pé! Decidimos então subir correndo a última rampa.
Ao entrar na cidade, decidi dar um sprint final mas me assustei com a roda traseira balançando. Parei para verificar o pneu e acabei achando que o cubo estava danificado.
Ao terminar a etapa e testemunhar a alegria do Adauto, segui para o mecânico que me meu a notícia mais triste dos últimos tempos: quebramos o quadro da Indiona. Não podemos prosseguir.
A tristeza só foi amenizada pela iniciativa do Mário Roma, o organizador da prova: No jantar de premiação dos melhores atletas, convidou o Adauto para subir ao palco, manifestou sua admiração pela conquista, e fez do Adauto o Embaixador Oficial da Claro Brasil Ride.
A noite foi assim. Conquista, tristeza. Superação, emoção. Vivemos de tudo no Claro Brasil Ride.
Publicado em http://weimarpettengill.blogspot.com.br/2010/11/claro-brasil-ride-boletim-5.html