A manhã de domingo foi bastante agitada nas trilhas do Jardim Botânico de Brasília. Os 40km da prova JB Mountain Bike foram percorridos por 85 atletas. Entre profissionais, amadores e apaixonados por bicicleta, duas figuras se destacavam: João Gabriel de Larque Kauer, 9 anos, que competiu pela primeira vez, e Walace Pascoal, 55, deficiente visual que, mesmo com dificuldades, fez questão de completar o percurso.
Desde os 7 anos, João Gabriel acompanha o pai, Eduardo Kauer, nos treinamentos. A dupla já chegou a pedalar 50km, saindo da QI 17 do Lago Sul e indo até a cachoeira do Tororó. Apesar de estar acostumado com as trilhas, o garoto estranhou participar de uma prova. ?É esquisito estar entre os adultos?, afirmou o atleta-mirim, que fez apenas a primeira volta, de 13km. Apesar de ter estranhado toda a agitação no meio de tanta gente grande, João Gabriel não achou o desafio muito exaustivo. ?Só na subida que foi um pouco mais puxado. Mas, fora isso, a trilha foi bem tranquila?, avaliou o garoto.
Além das pedaladas, João Gabriel gosta de andar de skate e pratica judô. ?O skate é na rua e eu ando mais. Com a bike é mais tranquilo, a gente curte a trilha, sente o vento no rosto e aproveita a natureza. Hoje, eu prefiro a bicicleta?, explica. O pai faz questão de incentivar. ?O esporte ajuda no desenvolvimento da criança. Eu estimulo mesmo. Se ele quiser se profissionalizar, dou a maior força?, afirma Eduardo.
Superação
Se João Gabriel julgou sua primeira participação em uma prova uma experiência tranquila, o mesmo não aconteceu com Walace Pascoal, que encontrou dificuldades nos 40km do percurso. Acompanhado por Geraldo Resende, 34 anos, ele teve que superar algumas barreiras durante a trilha em uma tandem, bicicleta de dois lugares. ?Com essa bike não dá para fazer a curva direito, aí fica muito difícil. Sem falar que tinha alguns trechos bastante estreitos e eu acabava batendo nas árvores e folhas. Não dava tempo do Geraldo avisar os obstáculos?, relatou Walace.
Ainda assim, o ciclista estava satisfeito com o desempenho. ?O importante é confiar em quem está lhe guiando, aproveitar a sensação de liberdade, o vento na cara e a natureza?.
Walace faz parte do projeto Deficientes Visuais na Trilha há cinco anos, quando começou a perder a visão. Admirado pela força de vontade de Walace, Geraldo não poupou elogios ao companheiro. ?Fico encantado com a capacidade e persistência deles. Por mais que seja complicado, eles nunca desistem. É uma recompensa sem preço.?
Emoção na última curva
» Na elite masculina, o resultado foi decidido na última curva, quando Breno de Luca ultrapassou seu próprio treinador, Abraão Azevedo. O professor não se incomodou com o vice-campeonato. ?Estou trabalhando justamente para criar uma geração que nos represente bem no Brasil e no mundo. Nós temos potencial para isso?, justificou. Breno está se preparando para a Copa Internacional, enquanto Abraão pensa no Campeonato Panamericano e no Mundial.
Texto publicado no Correio Braziliense no dia 28Mar2011
de autoria de Caroline Aguiar