- Bora, bora, bora! Vai largar! Vai largar! Vamos começar este pedal!!!

- Peraí! Quem está com a minha bengala?

- E os meus óculos?

- Todo mundo com o colete? Ele é um equipamento de segurança tão importante quanto o capacete...

- Cadê a camisa do Grupo?

- Iiiihhhh, não é essa não? Fala sério... Eu sou cego, lembra? Às vezes a gente confunde mesmo as camisas.

- Ah é...

- Bora! Bora!!!!

- UHHHHHHUUUUUUU!!!!!!!!!!!!!

E, em meio a esta algazarra, lá se vão os portadores de deficiência visual (DVs) pedalando pelas ruas e trilhas de Brasília...

- Mas como? Desde quando cego pedala? Não é possível...

- É sim... eles pedalam. E muito!!! Vou contar...

Tudo começou em dezembro de 2004 com o evento ?Neste Natal vai dar Pedal para o Deficiente Visual?. Era para ser uma ação social de um dia, mas o sucesso foi tão grande e contagiante que ninguém conseguiu mais parar.

- Neste Natal aí, os cegos aprenderam como pedalar?

- Sim! Convocamos ciclistas de diversos grupos de Brasília para conduzirem bicicletas tandem (aquelas para duas pessoas). Quem enxergava ía na frente e, atrás, o DV. Foi só emoção...

Afinal, já pensou?... Alguém que nasceu cego poder experimentar, pela primeira vez na vida, o vento no rosto e a sensação de liberdade que a bike traz? E o prazer daqueles que perderam a visão no decorrer da vida e não pedalavam há 10, 20 anos... Você consegue imaginar?

- Uau!!!! E aí? E aí? Como foi?

- Uma onda de emoção contagiante. Os deficientes visuais desciam das bikes tremendo e chorando. Tivemos que amparar vários deles para que não caíssem. Os condutores, por sua vez, não conseguiam segurar as lágrimas também.

Daí, nós, do grupo de mountain bike Rebas do Cerrado em parceria com o CEEDV (Centro de Ensino Especial do Deficiente Visual), resolvemos dividir com os DVs uma das sensações que mais nos faz felizes: a sensação de pedalar. E assim, transformamos o milagre daquele dia numa conquista constante, de todos os sábados. Foi criado o Projeto Deficiente Visual na Trilha.

Saímos do ?zero? e entramos ?com a cara e a coragem?.

Mal sabíamos das restrições de um DV e a forma como deveríamos tratá-lo para que ele atingisse os objetivos que estávamos propondo: de integração social, prática de esporte e opção de lazer.

Sabíamos que o projeto era caro, mas muito mais caro seria o contato com os DVs. Aprendemos muito nestes anos. Estamos ainda aprendendo...

Como em qualquer pedalada, caímos muito. Caímos e aprendemos a levantar. Várias vezes. E assim, fomos construindo a nossa história, juntos.

Vamos em frente porque sabemos que estamos crescendo e fazendo que os DVs cresçam conosco.

Não crescemos só no pedal, crescemos também na socialização, na cooperação, na doação e, principalmente, na humildade.

E já fomos longe... longe demais....dos simples passeios pelas ruas de Brasília às raias de madeira do circuito oval inclinado do Parapanamericano de 2007 na Colômbia; fomos à maior competição de mountain bike do Brasil, o Iron Biker (até ganhamos troféu pela inédita participação); estivemos em três Campeonatos Brasileiros de Ciclismo Paraolímpico; três ?Superando Limites?; dois Audax 200 Km; e à várias competições regionais....

Não é pouco não....

E assim, a cada conquista, vamos nos alimentando de coragem para tocar estas grandes bikes, com dois ciclistas a encarar os barrancos, down hills, pó-de-estrada e subidas infinitas. Em um trabalho totalmente voluntário onde a diferença nos possibilita conquistar amigos e superar dificuldades.

Dizem que quando perdemos um sentido passamos por um processo de ?compensação?. Ou seja, outro sentido ?ganha? a possibilidade de desenvolver muito mais seu potencial. Pois a bicicleta, neste caso, tem sido um grande instrumento para ajudar a desenvolver o maior dos sentidos da vida: o de solidariedade.

Texto elaborado por Simone Cosenza e Marcelino Brandão.
Coordenação do Projeto Deficiente Visual na Trilha
Bsb, 01/04/2008.

Depoimento realizado em 01/04/2006
Simone Cosenza e Marcelino Brandão

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